Início Desporto O texto que todos têm de ler antes da estreia de Portugal no Mundial: “se não me convocarem hoje para partir isto tudo…”

O texto que todos têm de ler antes da estreia de Portugal no Mundial: “se não me convocarem hoje para partir isto tudo…”

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O texto que todos têm de ler antes da estreia de Portugal no Mundial: “se não me convocarem hoje para partir isto tudo…”

É já na tarde desta quinta-feira, 24 de novembro, que Portugal faz o jogo de estreia no Campeonato do Mundo do Qatar. Contra a seleção do Gana, a equipa de Fernando Santos vai tentar entrar com o pé direito na prova.

No entanto, este Mundial tem sido muito marcado por alguma desilusão, sobretudo pela escolha do país anfitrião. Muitos adeptos boicotam a prova, por considerarem que a FIFA nunca deveria ter entregado a realização de um Mundial a um país como o Qatar, pelo seu desrespeito com os direitos humanos.

Também por isso, alguns fãs de futebol e de Mundial sentem algumas dificuldades para se abstraírem desses desrespeitos contra os direitos das mulheres, dos trabalhadores ou dos homossexuais e conseguirem olhar apenas para o futebol.

Luís Osório, no entanto, parece ter escrito as palavras certeiras. Para muitos, o jornalista voltou a acertar em cheio sobre as razões pelas quais todos podem viver livremente este Mundial, sem sentimentos de culpa. Um texto que está a viralizar nas redes sociais.

Fique o com ‘Postal do Dia’ de Luís Osório:

“Aplaudirei a seleção portuguesa sem qualquer sentimento de culpa

1.
Amanhã joga Portugal.

E eu prometo que não aplaudirei a seleção se for para fazer a revolução. Preciso apenas que me avisem do que decidirem.

É que vos oiço a falar do Catar.
E da indignidade dos nossos governantes fecharem os olhos aos direitos humanos constantemente atropelados no trágico emirado. Os direitos das mulheres, os direitos dos trabalhadores, os direitos dos homossexuais, os atropelos a quem acredita na democracia, na tolerância.

Não podia estar mais de acordo.

O Catar não é uma democracia.

O Campeonato do Mundo foi um arranjo da FIFA – a troco de muito dinheiro por baixo da mesa, a troco de favores, a troco da dignidade da competição.

No Catar morreram mais de seis mil trabalhadores que penaram de sol a sol – e estou convencido de que nem sabemos a metade.

2.
Mas vamos lá a ver.

Estamos mesmo disponíveis para a revolução?

Disponíveis para cortar relações com a China?
Ou para pedir desculpa à posteriori pelos nossos aplausos e elogios à extraordinária cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim?

É que os chineses esmagam todos os dias o Tibete.

Tratam os uigures como párias, dizimam-nos em campos de concentração em Xinjiang.

3.
Se é para ser, embora que se faz tarde.
Estamos juntos na revolução moral.

Cortemos relações com a Turquia por causa do modo como silenciam os curdos.

Cortemos relações com a Guiné Equatorial de Obiang – expulsemo-los de uma vez por todas da CPLP. Afinal, é um dos mais corruptos e repressivos países do mundo.

Cortemos relações com a Arábia Saudita e – com toda a coragem – recusemos o seu petróleo e dinheiro.

Cortemos relações com a Índia que reprime as mulheres, que fecha os olhos a violações bárbaras de meninas em autocarros públicos.

4.
Não tenho problema em jurar que amanhã, por volta das quatro da tarde, não estarei em frente à televisão a ver o Portugal-Gana.

É só dizerem onde estar e faço as malas sem olhar para trás.

Podemos começar por recordar o último Campeonato do Mundo antes deste.

Sabem onde foi?

Na Rússia!

E nós, nada.
Estávamos distraídos ou achávamos que Putin era um democrata que não atropelava direitos humanos ou que tratava com toda a dignidade gays e lésbicas?

Podemos também cortar o dinheiro das lavagens do sistema financeiro.

O dinheiro do tráfico de armas.
Do tráfico de seres humanos.
Do tráfico de droga.

Estamos disponíveis para cortar metade da massa que circula? Disponíveis para entrarmos em colapso, para que as empresas fechem, para que se multiplique o desemprego, para que tudo caia como um baralho de cartas?

Se sim, aí estarei.
Digam-me só a onde me dirijo.

À Avenida da Liberdade ou aos Aliados?
Aos Campos Elísios?
À Quinta Avenida?

5.
A nossa comodidade, mesmo os que têm uma comodidade mínima, está alicerçada numa profunda imoralidade.

Ainda não tinham percebido?

Meus amigos e camaradas de armas, se não começarmos a revolução hoje, se não tivermos a coragem de deixar de ser hipócritas ou absolutamente ingénuos, se não me convocarem hoje para partir isto tudo, então peço-vos desculpa, mas amanhã às quatro da tarde deixem-nos ver a bola sem sentimentos de culpa”.

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