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Carta aos professores que todos deviam ler: “Exigimos aos professores que deem aos nossos filhos o que eles não têm: futuro”

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Carta aos professores que todos deviam ler: “Exigimos aos professores que deem aos nossos filhos o que eles não têm: futuro”

Os professores continuam a sua luta, através da greve e manifestações, na busca por melhores condições. Luís Osório dedicou, por isso, o seu ‘Postal do Dia’ a esta luta, que é dos professores, mas também de todos os pais, que sabem da importância do professor na vida e no futuro dos seus filhos.

O jornalista Luís Osório escreveu uma carta aberta a falar sobre essa manifestação gigante que aconteceu no sábado, em Lisboa, de uma luta que devia ser de todos. Um elogio ao papel do professor, tão importante, como desvalorizado nos últimos anos. Uma carta que acerta em cheio no coração de todos os professores, mas que todos deviam ler:

“Exigimos aos professores que deem aos nossos filhos o que eles não têm: futuro

1.
Muitos milhares estiveram na manifestação de sábado passado.

Talvez 50 mil professores.
Talvez um pouco mais ou um pouco menos.
É indiferente, foi uma manifestação com uma mobilização extraordinária.

Para quem acredita na coragem, para quem acredita na capacidade de uma pessoa juntar-se a outra pessoa e a outra e a outra para reparar uma injustiça, para mudar o sentido de uma vida, para acelerar a dignidade e o progresso… para quem acredita em tudo isso, e eu acredito, não há nenhuma dúvida da importância do que vi no passado sábado.

2.
Não escrevi até agora sobre a greve dos professores por algumas razões.

Por um lado, os meus dois filhos mais novos, assim como os meus dois enteados, estão em escolas públicas. Não tem sido fácil lidar com a ameaça de tantas greves. Cada paralisação ou ameaça de paralisação implica com a nossa vida, com o nosso trabalho, com a nossa saúde mental.

Por outro lado, simpatizo com o ministro da Educação. João Costa tem cometido alguns erros de comunicação e oferecido uma imagem distorcida daquilo em que ele próprio acredita. Mas sempre o vi do lado dos “bons”, do lado dos que se preocupam, dos que entendem o que deve ser feito, dos que conseguem aliar o pragmatismo do poder ao idealismo do pensamento.

Em terceiro lugar por me fazer impressão alguns apoios. Tenho tanta embirração por Santana Castilho que a sua presença é sempre um barómetro do lugar em que não desejo estar.

Em quarto lugar, pela pressão de dezenas de professores para que tomasse uma posição. A pressão desmobiliza-me.

E em quinto lugar, a verdadeira razão para que não tenha escrito nada passava pela desconfiança em relação ao novo sindicato. Quem o apoiava? Quem era o seu líder? De onde vinha tanta visibilidade e tanta chama?

3.
Em relação a este último ponto não me parece que haja motivos para preocupação. O Stop é um sindicato que baralhou o modo como se reivindica, mas é mesmo apartidário. E sei que o seu líder, André Pestana, tem sido muito claro no modo como repele movimentos antidemocráticos.

Quanto aos outros pontos esbateram-se ou não têm qualquer importância.

A dignidade dos professores – com tudo o que isso implica para o futuro do país e das futuras gerações – vale bem a incomodidade da minha família durante umas semanas. Temos que estar juntos e não ser egoístas.

E quanto ao ministro da Educação espero que faça parte da solução. Gostaria que isso acontecesse.

Aliás, acho que o governo tem aqui uma oportunidade única de virar a mesa e começar de novo. A coisa tem corrido tão mal a António Costa que a possibilidade de resolver este impasse será a melhor das notícias para o primeiro-ministro e para o ministro da Educação.

Que o façam.
Seria justo, importante e prestigiaria o governo.
Que a oportunidade não seja desperdiçada.

4.
Voltando a sábado e aos milhares na rua.

Bastaria ver as imagens para perceber que as mulheres eram maioritárias na manifestação – uma prova de vida e de enorme coragem, uma coragem aliás que as mulheres têm de sobra.

O combate é justo e algumas das reivindicações podem e devem ser atendidas. Não as vou discutir aqui porque nenhuma delas foi decisiva para que tantos tenham desfilado em Lisboa.

O que leva os professores a gritar e a dar a cara é uma outra coisa.

É o esquecimento, é uma ideia de abandono, são anos e anos com a casa às costas, com vidas suspensas, sem segurança, sem poderem sentar-se num sofá que seja realmente deles, numa casa em que acreditem que vão realmente envelhecer.

Os professores saíram para a rua por ser insustentável que a classe a quem pedimos futuro seja depois a classe que não o tem.

É injusto.

São muitos anos a ser puxados para baixo.

E é bom não esquecer que durante a pandemia disseram presente. Adaptaram-se às tecnologias e fizeram o que nunca tinham feito. Fizeram-no sem um queixume, estiveram na primeira linha.

Muito obrigado por estarem a combater.
Por terem dado a cara sabendo que podem arriscar perder o que têm.

Que o governo tenha a iniciativa e se sente à mesa com o futuro. Que assuma o risco e abrace quem não pode ficar para trás. Não pode deixar de o fazer”.

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